O principal critério para o desenvolvimento da presente proposta - um abrigo de Peregrinos -, foi a ambição de criar um espaço dotado de características espaciais que respondam não só as necessidades físicas dos peregrinos – descanso e higiene -, mas sobretudo as suas necessidades espirituais – reflexão e introspecção.
A singularidade da forma criada vive da dialéctica entre um momento de reunião, um espaço central de partilha de experiências e caminhadas, e distintos momento individuais que se expandem e direccionam para o exterior, na tentativa de criação de íntimos espaços de meditação.
A linguagem do abrigo, centra-se na utilização de perfis sombra tipo PLADUR, ajustando-se ao desenho do terreno, formalizando o desejo dos distintos volumes emergiram no sentido do céu. Imediatamente no interior, os perfis- desenhados sobre duas métricas distintas-, permitem a passagem de frestas de luz verticais, concebendo o ambiente celestial imperativo na dinâmica do concurso.
No sentido de exaltar o significado do “caminho” para o peregrino, a entrada é feita sobre uma plataforma/rampa estreita (de passagem individual) seguida de uma mudança de direção através de um ângulo estável de 90 graus e por fim um lava –pés, uma reminiscência das crenças cristãs, simbolizando a oportunidade de relaxamento após uma longa viagem. Em seguida, já dentro do abrigo, o peregrino encontra-se num eixo axial, no fundo do qual duas frestas na parede delineiam uma cruz cristã e iluminam todo o espaço da zona de meditação colectiva.
A música é intuitivamente reconhecia por qualquer um de nós. Fruto de uma manipulação de sons e silêncios em delicadas e meticulosas sequências ao longo de um período de tempo, é, por excelência, uma das mais nobres expressões da cultura humana. Ritmo, harmonia, fluidez, são características intrinsecamente ligadas à música e que surgem minuciosamente transpostas para a presente proposta. A fluidez dos espaços, o jogo de formas curvilíneas que se afastam e/ou se unem. A busca de harmonia entre interior e exterior, entre forma e função, cheios e vazios, denuncia a intenção primordial de deixar transbordar as características do objecto – a música – para o espaço que o alberga – a Casa da Música de Viena. Sendo esta a cidade, por excelência da música clássica, este novo edifício será, sem margem de dúvida, uma referência de relevante importância a este nível.
No que diz respeito à implantação do edifício, tentou-se que o edifício dialogasse tanto com a cidade planeada e ortogonal como com o espaço livre, aberto e natural que é o jardim.
O interior do edifício é rico em jogos de mezanines e rampas que o organizam e dinamizam, visando sempre a criação de espaços fluidos e em constante dialogo entre si. As paredes e as rampas protagonizam um delicado jogo de tensões e extensões espaciais, surgindo como uma adaptação metafórica das curvas do violino para as paredes do edifício.
Silencio/Ruído, Comunicação/ Introspecção, Luz/Sombra, todos os momentos da obra procuram uma ligação e adaptação harmoniosa entre o programa, a obra e o terreno. O projecto desta biblioteca foi montado através da transposição interpretação do programa para a forma criada. Assim, o edifício conquista e apodera-se do terreno em três expansivos gestos. Cada gesto/volume nasce da interpretação/organização dos conteúdos programáticos.
Gesto 1: Silêncio
No primeiro volume localizam-se as salas de leitura e procura-se a criação de espaços confortáveis e luminosos propícios à introspecção e leitura.
Gesto 2: Ruído e Interacção
No segundo volume os espaços destinam-se a comunicação, interacção e convívio, localizando-se aqui os espaços da cafetaria, livraria e sala polivalente.
Gesto 3: Coordenação
No terceiro volume os espaços ligados ao funcionamento e administrativo da biblioteca. O Atrio, elemento funcional de distribuição, é o laço transversal de união dos três volumes, adquirindo características distintas em cada volume.
Para este projecto foi-me dado um terreno em socalco como os muitos que desenham a encosta do rio do Douro e proporcionam uma magnifica vista para a ponte Luís I e Muralha Fernandina, ícones marcantes da cidade do Porto. A localização não poderia ser mais emblemática. Esta proposta procura desenvolver uma intensa relação com a localização e brindar a cidade com um espaço dedicado aos amantes de cinema. A proposta consiste na criação de um edifício que recria no seu interior uma câmara obscura. Graças à lente que observa o rio, o edifício projecta imagens numa parede interior e assume-se desta forma como casa e guardião da evolução cinematográfica do Porto. Este projecto teve entrega limitada a 48 horas após a sua divulgação.
O presente trabalho, desenvolveu-se em 3 fases/momentos, cada uma com propósitos específicos.
Momento 1: A Cidade
O quarteirão a intervir localiza-se numa área habitacional próxima da rotunda da Boavista, uma forte centralidade . Analisando a dimensão do loteamento fornecido, o rasgamento de uma nova rua que permitisse o acesso e a divisão dos quarteirões tornou-se fulcral e pertinente. Esta nova via adquire o carácter de rua de interior de quarteirão, e deste modo, todas as instalações de comercio e escritórios são localizadas nas ruas com maior trafego ligação a áreas importantes da cidade como a Rua da Graciosa e a Rua da Quinta Amarela.
Momento 2: O Edifício
O segundo momento foi a eleição de um bloco de habitação e o seu desenvolvimento. O bloco elegido situa-se numa das ruas mais movimentadas e encontra-se em ligação directa com uma empena, facto que levante varias questões no que respeita a continuidade de fachadas e linguagens. O edifício acaba por resultar da intersecção de dois corpos: um que dá continuidade ao plano do edifício da empena e que define as varandas dos fogos de habitação e um outro de maior importância que alberga todas as habitações, que se distancia e separa das limitações da empena. Deste modo, torna-se possível o aumento do número de pisos do edifício para uma melhor definição do gaveto e uma igualdade de escalas dos edifícios circundantes.
Momento 3: A Habitação
A definição da estratégia de distribuição das habitações foi panteada com vista a permitir espaços amplos no rés do chão. Assim cada núcleo de ligação vertical distribui para 4 habitações. Com os sistemas de distribuição definidos e a área de cada habitação delimitada o objectivo foi criar espaços com o máximo de flexibilidade possível.
As dificuldades deste projecto residiam na irregularidade tanto formal com altimétrico do terreno, no diálogo com as tipologias habitacionais do séc. XIX do Porto que a nova proposta deveria responder e no desenho do remate do jardim das virtudes, lançando um amplo debate sobre a possibilidade de tornar ou não o jardim um espaço de acesso condicionado.
Tendo em consideração estas condicionantes o projecto teve como objectivo uma relação de continuidade com a envolvente, sem que este componente implica-se a sua perda de identidade. Foi assumido que o jardim seria publico e de acesso a qualquer hora do dia, como acontece com os estantes jardins na cidade. Deste modo, a localização da residente seria nas duas plataformas de cota superior e de contacto com a tipologia habitacional. Partindo da criação de um dialogo com os edifícios pre-existentes o edifício inicia-se num movimento vertical, para logo depois se transformar num grande braço horizontal que se apoderam do terreno. Como acontece nos braços, existe sempre um elemento de articulação, que neste caso seria o espaço de entrada na residência e que separaria as áreas comuns, das áreas de módulos de quartos. É esta articulação a imagem chave do projecto, o ponto de ligação das duas peças principais com direcções distintas e alturas dispares. Foi da problemática articulação dos volumes que nasce a dinâmica do projecto. Por outro lado, todo o desenho do conjunto, teve sempre em atenção a existência de uma rua que se encontra a uma cota bastante superior a do terreno. Esta situação exigiu um tratamento da cobertura do edifício como um quinto alçado do mesmo.
Recém-arquitecta de retorno a Portugal após viver na Argentina. Viajar e conhecer novas pessoas em novas culturas traz-me imensos benefícios profissionais. Para mim a arquitectura é a expressão física de um modo de ser e viver, com um inegável impacto na vida económica, cultural e identidade de uma cidade. Isto levou à minha recente obsessão por ícones urbanos como a Casa da Música na cidade do Porto, a minha cidade natal.